Ensaio D

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Do conhecimento que não se aplica


Grandes! Hoje este Observador tem uma pílula para vcs! O recheio? Informação! Para aceitar é só ler a próxima frase: Sua glândula pituitária não fica muito bem regulada na adolescência.

Péééééééééééééé!!!!!!!!

O quê? O que eu quis dizer? Bah, isso importa? Vamos ver... Caros, isto não é uma nota sobre biologia. É sobre algo mais importante. Bem mais. O leitor mais atento reparou que apesar da grifada, não há link. O que eu lhe obriguei a absorver foi uma dose única de informação. Gostou? Foi bom para vc? Espero que não, porque não sei se é verdadeira. Opa!

MALDITO!

D, como se atreve a mentir para mim?, vc pensa. Não menti, eu respondo. Falei da forma como estamos acostumados a, huahuahuahuahuahuahua!, "saber"... Este D presume que nem todos os leitores passaram o mouse na frase para haver se havia link. Não posso culpá-los. Não só pela insólita frase, mas também pela impetuosidade adsorvida, é quase natural que não haja esse interesse. Estamos numa geração fácil meus caros! Informação é fácil demais. Por qualquer meio. Isso é fácil discutir. Difícil deveria ser a decisão que tomamos sobre que tipo de informação queremos. Porém ela já foi tomada, ou melhor, comprada. E ela é dose única, uníssona e processada. Seja o jornal, rádio, TV, ou a nossa menina-dos-olhos-tão-aparentemente-à-disposição internet, o que descobrimos é limitado. E o pior: filtrado na voz de quem fala. Comecemos pelo "limitado".

Ó meu tão explêndido público! Nervoso? Impaciente por causa do tamanho deste post?

Ó meu tão impetuoso público! Minha pílula está fazendo efeito. E o recheio nem era bem aquele.

Já mediu o tempo que um âncora leva para ditar uma notícia num telejornal? Coisa de uns pouco minutos no máximo, correto? Não que ele devesse demorar mais tempo, porém, quando vc ouve tal informação, acha que foi o suficiente? Dependendo dela, sim, não é? Ou dependendo de como nos foi passada. A informação é encerrada ali. Por que vc quis? Sim. Se a sua atenção se virou totalmente para a próxima notícia, a resposta é sim. Quantas vezes isso acaba acontecendo, quando vc lê um jornal, ouve um rádio, etc? Muitas vezes, crê esta quarta letra. E no final o que sabemos? Que um morreu ali, meu time ganhou aqui, vai chover lá e por aí vai. Isso não é saber. Nem ao menos se informar meus caros. Entendam. Isto é absorver dados pré-processados. Foram vistos, entendidos (ou não!), passados de mão em mão e vendidos a nós. No final é tanta subinformação, tantas manchetes "não linkadas", que a pergunta que fica é: o que realmente sabemos? Tudo é tão dinâmico. Tão rápido. Mas o informar e o saber exigem um pouco mais de tempo. Se eu escolho um assunto para ler na rede, por exemplo, fica difícil absorver alguma coisa clicando aqui, acolá... tudo isso em menos de uns 10 minutos. Nas outras mídias, compramos a opinião. E isso é tão lógico, não é mesmo? É o trabalho deles não é mesmo? Não termos o trabalho... Voltemos à minha pílula. A glândula pituitária, também chamada de hipófise, fica na parte de baixo do cérebro (atenção rapaz, cérebro não é encéfalo), e ela regula os hormônios no nosso corpo. Isso, falo de um jeito bem geral. É bem mais complexo naturalmente. Mas este post já está grande demais... huihihihihiahahahahaHAHAHAHA! (minhas desculpas Dr. Plausível...). Muito bem. Daí, eu, o Observador D, presumi que na adolescência ela ficava desregulada, já que, "dizem", os jovens estão em estado de transição. Compreenda: EU PRESUMI! E, de forma quase maliciosa, passei a vc meu caro! Com interesse é claro! De vc começar a entender este post. Na imprensa náo é diferente. O dado obtido é posto na visão de quem fala. Mas para realmente compreendê-lo precisamos desejar um maior aprofundamento. Mais um e derradeiro exemplo: o que é economia? Estamos numa crise financeira não? E tantos de nós tem dificuldade para compreender e dizer a própria definição do que é economia. Vamos, diga, agora! Este é um desafio D! ( Se vc disse, parabéns, avise-me na área de comentários!) Se nem sabemos o que é economia, como podemos dizer que estamos informados sobre o que está acontecendo? Aí é que está. Não estamos. E só estaremos se nos dispormos a nos aprofundar mais. Encerramos a parte da "filtragem".

Ó meu público tão paciente, desde agora!

A minha intenção com tudo isto é incentivar a procura pela verdadeira informação. Pela verdade. E não uma meia-verdade, uma verdade limitada, ou mesmo, uma falsa verdade. São assuntos tão postos de lado não é mesmo? Política, Física, Biologia, Economia e outros. Parece que todos estão tão distantes de nós. Parece que estão atrás da tela e são satélites. Ah sim! Que orbitam e de vez em quando nos mandam sinais de existência. Estes, tão frágeis e macios, que nos impressionam pelo quase-nada acrescentado. Caros, se são satélites, então tudo está à nossa volta e apenas estamos vendo girar. Me convido, e a vcs também, a entender e melhorar a vida. Não há necessidade de preconceitos. Nem de pressa, creia. Sem correr, bem devagar... estranho isso não? Que vontade de clicar!

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Do Edgar


Grande Edgar



Já deve ter acontecido com você.

- Não está se lembrando de mim?

Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando a sua resposta. Lembra ou não lembra?

Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.

Um, o curto, grosso e sincero.

- Não.

Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos não entre pessoas educadas. Você devia ter vergonha. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem.

Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.

- Não me diga. Você é o... o...

“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com a sua agonia. Ou você pode dizer algo como:

- Desculpe deve ser a velhice, mas...

Este também é um apelo à piedade. Significa “Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!” É uma maneira simpática de dizer que você não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve à insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.

E há o terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.

- Claro que estou me lembrando de você!

Você não quer magoá-lo, é isso. Há provas estatísticas que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:

- Há quanto tempo!

Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.

- Então me diga quem eu sou.

Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:

- Pois é.

Ou:

- Bota tempo nisso.

Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem é esse cara, meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas do meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como “jabs” verbais.

- Como cê tem passado?

- Bem, bem.

- Parece mentira.

- Puxa.

(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)

Ele está falando:

- Pensei que você não fosse me reconhecer...

- O que é isso?!

- Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.

- E eu ia esquecer você? Logo você?

- As pessoas mudam. Sei lá.

- Que idéia!

(É o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo, amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. “Que bom encontrar você!” e paf, chuta uma perna. “Que saudade!” e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)

- É incrível como a gente perde contato.

- É mesmo.

Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.

- Cê tem visto alguém da velha turma?

- Só o Pontes.

- Velho Pontes!

(Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)

- Lembra do Croarê?

- Claro!

- Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.

- Velho Croarê!

(Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)

- Rezende...

- Quem?

Não é ele. Pelo menos isso está esclarecido.

- Não tinha um Rezende na turma?

- Não me lembro.

- Devo estar confundindo.

Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.

- Sabe que a Ritinha casou?

- Não!

- Casou.

- Com quem?

- Acho que você não conheceu. O Bituca.

Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?

- Claro que conheci! Velho Bituca...

- Pois casaram...

É a sua chance. É a saída. Você passa ao ataque.

- E não me avisaram nada?!

- Bem...

- Não. Espera um pouquinho. Todas essas coisas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?!

- É que a gente perdeu contato e...

- Mas o meu nome está na lista, meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.

- É...

- E você ainda achava que eu não ia reconhecer você. Vocês é que esqueceram de mim!

- Desculpe, Edgar. É que...

- Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam...

(Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”)

- Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?

- Certo, Edgar. E desculpe, hein?

- O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.

- Isso.

- Reunir a velha turma.

- Certo.

- E olha, quando falar com a Ritinha e o Mutuca...

- Bituca.

- E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?

- Tchau, Edgar!

Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo.


Este texto está nos livros As mentiras que os homens contam, Comédias da vida privada e O suicida e O computador.

Luis Fernando Verissímo

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sábado, 8 de novembro de 2008

Depois do bambu...

Caros. Este D deixou de ser televisivo. No lugar da TV, a tal da internet está sendo explorada. Um vício pelo outro, é bem verdade. Mas dos males, o menor. Numa das viagens extraordinárias por diversos sítios, todos com certeza muito bem conhecidos do leitor, não pude deixar de ver e gargalhar de um dos vídeos mais engraçados das últimas semanas. Sim, é dela! A menina-monstro... digo... a menina prodígio Maísa que participa de um programa do Silvio Santos.

Pausa reconstrutora: ver menos TV não significa necessariamente não ter absoluta noção do que passa na mesma. A internet é uma prima de segundo grau dela, estão interligadas de certa forma.

Sei o quanto todos devem "adorar" o excamelôhojeumdoshomensmaisricosdopaíschatodedoer Sílvio santos. Bem, mais um motivo para ver o vídeo do link abaixo, onde a menina de forma graciosa diz que... bem... a mãe do Silvio é uma vaca...

Vários vídeos do ocorrido: é só escolher


Ele pediu não é mesmo? Isso me lembra alguma coisa...

Sílvio Santos caindo na piada mais antiga da humanidade.





Porque este Observador é bem menos sério do que parece.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Do capital que não se aplica


Este blog não é pop. Mas tudo é exceção. Daí, nada mais natural do que Esta quarta letra ensaiar sobre o assunto do momento!

Felipe Massa? Prima da Gretchen? Nem! Luana Piovani apanhando de Dado Falabella??? Que isso, nem bêbedo!

A crise financeira minha gente. Isso logo será extremamente importante. Ué? Mas como D, ainda não é? As principais consequências não chegaram ao Brasil, meu tão impetuoso público. Não temos furacões aurelianos, temos avalanches injustas vindas do lado de cima. E atrasadas, como dessa vez.

Ó meu publico, incrédulo! Não crês? Veja essa notícia sobre uma empresa bem próxima de vc.

A vida como ela é... clique.

E no meio de tudo isso, temos uma voz sensata. Não, não é a minha, eu sou um louco que observa e repassa. Sou um utilitário para vcs meus caros! Estou falando é do escritor José Saramago, autor do livro "Ensaio sobre a Cegueira", recentemente lançado nos cinemas. Como um ensaísta (sou um neologista, rapaz!) que também sou, não podia ignorar um mestre. No lançamento do filme em Lisboa, ele fez uma declaração sobre a crise. Veja a conclusão formidável do velho... digo do mestre!

“Marx nunca teve tanta razão[..]
“estamos sempre mais ou menos cegos. O ideal seria que todos fossemos cidadãos ativos, mas cada um tem os seus problemas e a sua felicidade a conquistar [...]
“as piores conseqüências ainda não se manifestaram [...]
“Se há uma catástrofe em qualquer lado, aparecem logo países a querer ajudar, mas um ano depois a ajuda ainda não chegou. Como é possível demorar-se tanto a disponibilizar dinheiro para uma emergência e agora, de repente, saltam milhões? Onde estavam? O dinheiro apareceu para salvar vidas? Não: apareceu para salvar bancos. E dizem que sem bancos isto não funciona. Marx nunca teve tanta razão como hoje”. Mais


Meus caros, os bancos são as pessoas do sistema. E nós somos as ferramentas fiéis. Não concondo com algumas coisas que Saramago disse, mas isso não é importante. O que interessa é o fim das dúvidas sobre a velha questão da distribuição de renda. Não haverá, porque é incoerente. Não faz sentido, nesse sistema. Morrer com 1 bilhão de dólares na conta. Isso é que está fazendo sentido.


Links: A matéria completa.
Blog do Saramago.

Da filtragem

Ò meu público, público que não tenho!

Este Observador quer forçá-lo a cometer um engano. Olhe atentamente para o ponto preto da figura abaixo; depois mova sua cabeça para frente e para trás (não exagere, não está tocando black sabbath).





























Pois é. O lado de trás de seu encéfalo, aquele mesmo, o da visão, foi imposta a uma filtragem errônea. Tudo o que vemos é filtrado. O simples fato de vc mexer as mãos e ainda entender que sua mão é... bem... ainda é sua mão, já é uma filtragem cerebral. Caros, nada é óbvio. Falaremos logo disso. Por enquanto, deleite-se com mais uma ilusão de ótica doidona. O esquema é o mesmo, focalize no pontos pretos, porém dessa vez vc nem precisará se imaginar ouvindo system of a down...









PS.: Havia muitas outras que Este D encontrou, porém tinha o sério risco de que não passassem de imagens GIF animadas. Eu acho... será que a ressaca de domingo ainda não se foi?

domingo, 2 de novembro de 2008

Dica do D: o Papagaio

















Ó meu público meu público!

Como já deve estar óbvio, este D gosta muito de falar. E muitas vezes precisa de um alerta sutil (como um grito ou um tapa na cara) para entender que está bom, chegou no Guiness. Também aprecio leitura. Porém, principalmente na net, é muito comum não encontrarmos todos os termos no bom português. Aqui vai então uma dica de software interessante. Ele funciona como o Babylon, mas não é "gratuito para testar". Muito eficiente, não tenho nada do reclamar. E possui integração direta com o tradudor on-line do google (sim, ele mesmo: o vírus que tudo sabe, vê e invade). É o Lingoes, software gratuito. Mas já vou avisando. Não baixa daunloudear o programa, tem de baixar um dicionário depois com as línguas que vc quer. Haverá um link na interface principal do programa para novos dicionários. Na verdade, ao contrário do que parece isso é bom, porque dessa forma dá para ter um tradutor de inglês, russo, italiano etc. Ou não. Vc escolhe as línguas (entenda-se "dicionário que quero baixar"). Aqui vai o link do baixaki sobre o programa.

Até!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Do fim


Ó meu público, meu público!

Este D tem uma vida fora da existência webiana. Ela é sentida através de um estudante de Engenharia. Acho que agora vcs têm certeza de que sou louco. Sandices à parte, um belo triste dia fui fazer prova de Física 1, na chamada Universidade Estadual do Rio de Janeiro. UERJ para os mais chegados. Estes, também devem ter noção da fama de "ponto de alto risco suicida" desta instituição de morte... digo, de ensino. Acontece que o Campus 1 da UERJ tem 12 andares, e qualquer um (reafirmo: QUALQUER UM, desde que esteja calçado e fedendo pouco (mas isso é em qualquer facul pública carioca)) pode entrar lá sem problema nenhum. Daí, o prédio virou um point de suicidas. Sinceramente não sei se a maioria é estudante, acho que deve ser. Fato é que tais ocasiões mórbidas são pouquíssimo detalhadas oficialmente. Escondem informações? Se não, dificultam a divulgação com certeza. Parênteses fechados, voltando ao dia fatídico, quando fui entrar no prédio notei uma área isolada perto da entrada. Não havia nada nela, mas naturalmente havia ocorrido alguma coisa ali. Subi ao 3º e encontrei os companheiros de facul. Curiosidade é foda, já saí perguntando sobre o ocorrido, e me disseram que uma menina havia se suicidado. Só sabiam isso, e, de forma incrivelmente óbvia, estava na cara que não se importavam de saber mais. Uns diziam que era bonita, outros que era estudante, só desencontros enfim. Fiz a prova e se passaram uns dias. Daí encontrei um amigo em algum lugar, onde comentei sobre o caso. Ele disse que aquilo tinha sido foda (estou usando a palavra foda pela 2ª vez, veja que meu nível de nerdice e meu ímpeto aureliano estão baixos hoje).

-Por quê? - indaguei.

- Pô cara... a menina se matou.

Faltou muito pouco para eu responder: "E daí?". Continuou.

- Isso foi uma merda cara.

De fato.

Ó meu público não-suicida!

Estamos em tempos de normalização do fim. Claro, morrer é natural (ainda discutiremos melhor sobre isso), porém alguém se matar é? Se a resposta é sim, então vc matar alguém também é. Não? Pois bem, vamos lá: quantos morreram assassinados em sua cidade ontem? Não sabe? Calma, isso é normal. Ou não?

Ó meu impetuoso público!

O normal ou natural é relativo demais. Alguém ser morto, por um terceiro ou não, e lermos no jornal pode ser normal, ou natural. Mas se fosse um conhecido meu ou seu, ou nosso, já não sei. Então, se não soubermos quem é, é natural? Não lhe julgo, caríssimo! Não sei quantos foram assassinados ontem no Rio. Estamos nos batendo, digo... nos confrontando da maneira mais razoável e racional possível. De D para um ser humano. Onde finalmente quero chegar é o fato de que uma garota morreu e eu fui fazer prova de Física. Mais do que isso, tudo rodou como tinha de rodar, naquele dia na UERJ. Eu não sei quem ela era. Se era alta, magra, bonita, olhos castanhos, estudante de Física Quântica ou uma ilusão da Matrix. O que sei é que não sei nada, e isso me incomoda. Ampliando os horizontes, temo o dia da banalização extrema da vida de cada um de nós, onde um assassinato ou suicídio meu ou seu seria encarado como "normal", posto na zona de memória curta do cérebro. Ela me fez parar a minha vida para pensar nela, e no que a levou a isso. Entenda, não sinto pena dela, sinto medo sobre a minha e a sua aceitação diária do que ocorre à nossa volta. Ela nos fez parar, ao menos por um instante, a rotina do "normal". E eu a amo por isso.